A administração do Banco angolano Yetu assegurou hoje “solidez de fundos para garantir estabilidade” da instituição formada por capitais privados, tendo como accionista maioritário o deputado do MPLA (como é óbvio) Elias Piedoso Chimuco. Aliás, o que seria de Angola, de África, do mundo, se o MPLA não existisse? Por isso o Presidente diz: o MPLA esteja convosco. E os escravos respondem: ele está no meio de nós!
Segundo Eduardo Severim de Morais, presidente do Conselho de Administração da instituição bancária, fundada em 17 de Setembro de 2015, em 2018 a instituição teve lucros líquidos de 2,3 mil milhões de kwanzas (5,9 milhões de euros), dos quais os accionistas prescindiram para aumentar o capital social, que é actualmente de 9 mil milhões de kwanzas (23,2 milhões de euros).
Em conferência de imprensa, em Luanda, o responsável falou da saída de António André Lopes, ex-presidente da Comissão Executiva e nomeado, na última semana, para o cargo de presidente do Conselho de Administração do Banco de Poupança e Crédito (BPC), maior banco público (leia-se do MPLA) angolano, recusando que isso traga instabilidade à administração do banco.
“Foi uma decisão pessoal e a sua decisão não tem nada a ver com a gestão ou estrutura do Banco Yetu”, disse Eduardo Severim de Morais, assegurando aos clientes “que nada muda, o banco está estruturado”.
Na sequência da saída de António André Lopes, uma reunião extraordinária dos accionistas, hoje realizada, decidiu indicar o administrador executivo Sebastião João Manuel para interinamente exercer o cargo de presidente da comissão executiva do Banco Yetu.
O presidente da administração do banco disse também que a decisão dos accionistas em prescindirem dos lucros para alargar o capital social da instituição veio “garantir maior solidez com os indicadores prudenciais, agora acima dos indicadores médios das instituições financeiras” do país.
“E mantemos toda a estratégia definida no nosso Plano de Negócios 2018-2022, mantemos todas as ideias de expansão da nossa rede comercial com implementação ainda este ano de mais três agências em Luanda, ainda no Huambo e uma na província da Huíla”, apontou.
Com mais de 11.000 clientes, o Banco Yetu conta com duas dependências em Luanda, uma na província de Benguela e duas na do Cuando Cubango bem como com duas unidades de correspondente bancário.
A instituição financeira, constituída há quatro anos, tem um capital social distribuído por cinco accionistas, nomeadamente o deputado Elias Piedoso Chimuco, do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975, com 75,96%, Margarida Severino de Andrade com 10,35%, Deolinda Cativa Bule Chimuco com 10,35%, João Ernesto dos Santos, actual ministro dos Antigos Combatentes de Angola, com 1,67% e Manuel Francisco Tuta com 1,67%.
O Banco Yetu definiu como seus os seguintes objectivos estratégicos:
Ser um banco de excelência na prestação de serviços financeiros, e na sua relação com todos os actores do sector; ser um banco sólido, onde o rigor, a transparência e a responsabilidade convivem de forma inesgotável; utilizar os seus valores, para, com eles, ser uma presença próxima de todos, contribuindo para o desenvolvimento económico e social do país.
E ainda, utilizar sempre uma linguagem e uma postura em conformidade com os seus actos: clara, prática e transparente; apostar na Inovação, criando produtos e serviços diferenciadores, dando corpo a uma dinâmica tecnológica acessível a todos, fazendo da banca electrónica “um bom vizinho”; consolidar a sua implantação territorial, através de uma cobertura gradual e adequada de agências e tirar proveito de sinergias resultantes do desenvolvimento de uma rede de parcerias estratégicas; ser uma referência no sistema bancário angolano, em pilares como a solidez, a transparência e a responsabilidade, cobertura racional e estratégica do território nacional, bem como na qualidade e diversidade distintiva de produtos e serviços; ter sempre presente os valores da eficiência e da eficácia, procurando maximizar os superiores interesses dos clientes e dos accionistas.
Setembro de 2012. Os deputados dos círculos provinciais do Namibe e Cuando Cubango prometiam que os problemas da população seriam levados à Assembleia Nacional sem receios.
Elias Piedoso Chimuco, até então conhecido como empresário de sucesso (ou não fosse do MPLA), no Namibe, Huíla e Cuando Cubango, eleito deputado pelo partido então liderado por José Eduardo dos Santos, estreava-se nestas lides prometendo servir a população e não servir-se dela.
O Executivo angolano, segundo o deputado Elias Piedoso Chimuco, iria ser obrigado a cumprir as promessas eleitorais de 31 de Agosto.
Em Setembro de 2015, o Conselho de Ministros reconheceu a Fundação Piedoso como instituição de utilidade pública. A decisão reacendeu uma antiga polémica sobre os critérios seguidos pelo Governo para o reconhecimento de instituições de utilidade pública, a fim de serem subsidiadas pelo Orçamento Geral do Estado.
Isto porque, como acontece desde 1975, o Executivo apenas reconhecia instituições ligadas ao partido no poder – como é o caso da Fundação Eduardo dos Santos (FESA), do Fundo LWINI, dirigido pela ex-primeira-dama Ana Paula dos Santos, ou das Organizações Kabuscorp, do general Bento Kangamba, e também o caso da AJAPRAZ (Associação dos Jovens Angolanos Provenientes da Zâmbia) ou do Movimento Nacional Espontâneo, todos com ligações ao MPLA.
Em 2015 o Governo foi confrontado com a situação, mas não respondeu, segundo disse na altura Fernando Pacheco, coordenador do Observatório Político e Social de Angola (OPSA).
“Já foi várias vezes solicitado um esclarecimento público. Face à falta de esclarecimentos públicos, só podemos concluir que são critérios de ordem subjectiva”, afirmou o engenheiro agrónomo em entrevista à DW África, acrescentando que “não posso garantidamente dizer que há razões políticas por trás desse tipo de atitude, mas é possível que, por essa razão, se possa chegar a essa conclusão.”
Pio Wacussanga, pároco da arquidiocese do Lubango, referiu na mesma altura que era um absurdo atribuir o estatuto de instituição de utilidade pública a organizações que “nem sequer trabalham na base”, em detrimento de organizações como a ADRA (Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente), AJPD (Associação Justiça, Paz e Democracia), Associação Mãos Livres, OMUNGA ou SOS Habitat.
“Essas são associações empenhadas em questões locais, para minimizar o sofrimento das populações, mas são vistas como subversivas porque não acrescentam ao poder de quem se quer prolongar no poder,” disse Pio Wacussanga, que também era presidente da organização Associação Construindo Comunidades (ACC), criticando as instituições usadas como “base de apoio” do poder – “essas associações podem também ser o canal para branqueamento de capitais, a fim de branquear a imagem de quem está no poder”, disse.
Folha 8 com Lusa